domingo, 8 de dezembro de 2013

o piá tem nome

Hoje é sabado
amanha é domingo
Eu fui no shopping
porque hoje é sábado
Tem muita gente a passear
porque hoje é sábado
lá fora tem menino de rua
porque hoje é sabado
E por que hoje é sábado
o menino entra no shopping
e embaixo de seu olhar baixo
tenta encontrar seu espaço

Mas dali é tirado
com a mesma naturalidade da madame que passava o cartão
e comprava um vestido
para desfilar uma vida sem sentido
o segurança que ali estava
parecia trabalhar o dia todo
porque hoje é sabado
e acompanhou o menino para fora do estabelecimento
e porque hoje é sabado
ninguem parece ter ressentimento

aquele menino tinha nome
e porque hoje é sábado
uma hora ele também sentiria fome

acontece que mesmo hoje sendo sábado
eu conhecia o menino e sabia seu nome
e em meio ao meu conflito
entre gastar meus últimos tustões em livro
ou economizar para o fim do mês
deixei tudo de lado e na diração do segurança
eu caminhei

educadamente sobre o menino eu perguntei
e a história dele para o moço eu contei
contei que Bruninho tinha um nome
que a cola já havia grudado na mente e no coração daquele pequeno
que só se fazia vivo no mundo de ilusão
tamanha a crueldade de sua tão sofrida realidade
e que Bruninho nos seus poucos momentos de sobriedade eloquente
se mostrava muito inteligente

o paladino do consumo seguro
pareceu se compadecer
e até se pôs a me esclarecer
as motivações de seu proceder
e deixou claro que aquela atitude
tinha a ver com aquele espaço
de contradições e informações quase em milhões

Sem mais pensar em livros
do jovem me despedi
e do shopping eu sai
iniciei com os olhos a procurar o menino Bruno
no vasta calçada ao lado daquele grande barracão
que parecia diminuir quem por ali passava
O Bruninho eu não enxergava

Sondava de um lado e do outro
mas acabei não avistando
então para o tubo do biarticulado
eu fui caminhando

Lá dentro
enquanto o onibus não chegava
ainda fiz por onde para o encontrar
e mesmo assim nada...

lá de longe vinha o onibus
e ai eu descobri o porque meus olhos não conseguiriam o enxergar
pois quando é sabado
parece que para baixo não se olha
nem tampouco se percebe
os Bruninhos invisíveis
que no chão do ponto dormem
que do dia fazem a noite
que da violência não escapam
que no shopping também entram
que as vezes silenciosos
gritam por socorro
que eu espero que um dia possam ser enxergados
por qualquer um que ousa por cima deles passar....














quarta-feira, 30 de outubro de 2013

Eu gostaria de falar sobre um assunto serio
é que essa coisa de criança brincar é coisa séria!
Trago exemplos nessa história...

Eu que brinquei de bola
Caí na escola
Corri da mãe cola

Mas quando o sol ia embora
Pular no vizinho roubar amora
e voltar para casa sem demora
pois no raiar da aurora
A vida começa de novo lá fora

E ai... ishh to atrasada
Subo na bike toda apressada
Mas, ufa! que bom

Cheguei em cima da hora
o jogo começa agora!

Me concentro para jogar xadrez
e na dama eu trilho o meu caminho
A não ser quando resta 1
nunca jogo sozinho
e no tabuleiro eu crio mundo inteiro

Pois é, brincar me faz pensar
Até no jogo de baralho
eu preciso calcular
qual a carta a descartar?

E no jogo de memória
o jeito é mentalizar...

Depois andar de bicicleta como se fosse um atleta
e qual a criança arteira que nunca pulou do alto de uma cachoeira?
é por isso que brincar é coisa de gente
gente com jeito de ser humano
gente direita
e não existe nenhum direito mais humano
do que envelhecer criança a cada ano

E também não é a toa
que brincadeira boa
virou até lei que eu sei
E hoje até criança em leito de hospital, tem o direito a uma infância de brincadeiras
e de recuperar sua saúde tão logo consiga

Ser criança é criar oportunidades
de criar arte com o corpo e com a mente
interagindo por inteiro com o meio ambiente
E abrir um caminho que simplesmente
me leve aonde eu quero ir

Com meus amigos faço uma viagem
E tal qual velhos marinheiros
enfrentamos temporais
Em meio ao oceano de chão
protegidos pelo barco de papelão

Também com os amigos
Dançar e requebrar da cabeça aos pés
cantar como quem quisesse...imitar o som de um pássaro
e imitar eu imitava o herói do meu filme preferido
se enjoasse ia brincar de casinha
casinha que caia
quando no sereno eu saia
e o mais velho descobria

Mas se algo me deixasse cansada, irritada
Hoje eu não saio para brincar
Fico em casa, como e durmo a reinar
mas não se preocupe
meus brinquedos eu não vou aposentar
porque amanhã a farra vai começar

Eu experimentava sorrisos, me machucava, chorava
a dor aliviava e eu novamente sorria

E eu que sempre fui goleira de primeira
bola nenhuma de mim escapava
no bobinho ou na peteca
nada por mim passava
sem que eu conseguisse pegar

Mas pela primeira vez
algo eu deixei escapar
E por mais que eu quisesse
algo em mim não conseguiu voltar
Era o tempo
que sem pedir licença
virou as páginas da vida e me fez criança crescida

E é por isso que das crianças eu não esqueço
e a você criança grande
peço que escutem o meu apelo:

o de nunca deixar de lado
a bonita esperança que vem com o ser criança

e que os pequenos pelos quais o nosso coração bate mais forte
possam olhar para trás
e num tempo que não volta mais
relembrar bons momentos da infância

Pois esse universo de magia, alegria e harmonia
é para nós adultos de grande valia
Criança de nenhuma idade combina com olaria
muito menos com bóia fria
Criança não tem que puxar papel
Mas fazer do papel o seu próprio carro
Criança começa a sentir no corpo o despertar da sexualidade
explorá-las assim é covarde crueldade

Pois para as crianças
o mundo que se constrói no imaginário
também cria realidade
capaz de construir uma nova possibilidade

A possibilidade de resistir e juntos lutar contra tudo e todos que impeça nossas crianças de SONHAR!


domingo, 8 de setembro de 2013

Menino
Menino moreno
Teu olhar é profundo e sereno

Menino do cabelo cacheado
Teu viver foi encantado
Me encantei com o seu jeito simples
E desse jeito simples
Simplesmente a tua presença 
Me levou a verdadeira crença
De crer que eu posso ser
Em meio à juventude perdida
A minha própria luz e vida 
Aquilo que um dia eu sempre quis
e em meio a tantas tristezas me encontro feliz
só por tê-lo conhecido
Assim como eras
Assim como és
Um preto de ébano maduro
Ansiando o futuro

Menino tão delicado na feição
Soube fazer valer os olhos do coração
De andar tranquilo
A sabedoria de seus passos não eram nenhum sigilo
De mãos pequenas e tão cheias de coragem
Rezou a seus deuses para aguentar a viagem
Toque do tambor guardado em tantas memórias
Memórias que vieram antes de ti
Memórias de seus negros anciões que te guiaram até aqui

Pois desse lado do oceano
Sem saber aguardávamos esse seu ser tão humano
E além mar, esperamos pelo teu chegar

Menino querido
Com as garras de uma palanca
Puxou no teu tom de sua voz uma alavanca
Que cantou e dançou esperança
Que trouxe contigo sonhos de criança

Menino lutador
Que fez da causa dos outros
A sua própria vida e amor

Menino musical
Tua poesia estremecia sua luta
E tal qual toque de berimbau
Libertava com palavras
Lagrimas de um povo sofrido  

Nanheca, namibe
namiBENGUELA
Terra de tantos povos
Pintados numa bela aquarela
De histórias contidas, de vidas vividas
Donde vem a história desse menino moço
Menino que chegou no Paraná com 14 na identidade
Mas com caminhada que não se contava por idade

Menino Francisco 
Os teus 8 irmãos em algum lugar do sertão
Pedem por ti
Mama Joaquina e Baba Francisco
Também nunca deixarão morrer teu espírito    

Menino mulato
Teu partir foi ingrato
Mas menino de Angola
Veja só sua história

São tantas que podia falar que nem sei por onde......
Mas só a ti o que peço
É um simples perdão em nome desse mundo
Que cegado na rotina
Não conseguiu contigo ir afundo
E que me de a sua bença
A mim e aqueles tinham em você a imagem de um guerreiro  
A cegueira que vos falo não lhe permitiu calar a boca desse mundo inteiro 

Mas a família Benguela tem a ti como sentinela  

sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Olhos que sentiram com o coração

Uma enfermeira dedicada,
seu nome é Márcia 
que me contava de sua rotina atribulada
E foi entre prosas sobre seu trabalho em hospitais
e meus vícios quase banais 
que uma história que me contou
Ela me levou com ela para uma lembrança que se recordou
de uma noite de natal em uma sala de hospital
onde junto aos colegas, quando em plantão nas noites natalinas 
 passava de quarto em quarto deixando mensagens genuínas
falavam sobre o natal e aos pacientes desejavam melhoras e curas 

Na época, Márcia trabalha numa UTI, 
e tinha uma guria em coma ali
essa jovem menina  
deitada no leito estava acidentada
e era vitima de uma doença 

Márcia e sua equipe daquela cama se aproximaram
seguram aquelas frágeis mãos e as apertaram 
Falaram sobre o natal 
e presentaram-na com palavras de esperança 

Ao findar da conversa, alguém dizia a jovem algo como:
-Se você está escutando o que estamos falando 
por favor, tente piscar para nos sinalizar...

Dos olhos da moça não saiam piscadas
e sim várias lágrimas derramadas
cujos olhos sentiram com o coração 
a emoção que o resto de seu corpo já não podia acompanhar
mas que sua alma conseguiu escutar

Contando com um sorriso sincero
Márcia parecia me dizer
que momentos como aqueles 
faziam ela acreditar
por aquilo que ainda está a lutar
mesmo em meio as dificuldades que tem de enfrentar...  




quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Piá

Piá d'alma pura de doce sorriso
me mostra de forma segura
que tem compromisso
com sua família
com seus amigos e povo

Também não aceita calado
nenhum tipo de abuso
e sabiamente questiona
o que está fora do lugar
para tentar arrumar
ou buscar uma saída
ou pelo menos o melhor caminho
trazendo pro seu aconchego alguem que esta sozinho
ou que só precisa de um carinho

Fugindo de seus sentimentos
Nem sabe os meus lamentos
Pois só o que eu queria era um braço amigo
Queria para as minhas ideias um abrigo
pois queria era ser parte
dessa política arte
de encantar, escutar e se perguntar
qual ação é que eu deveria tomar
uma questão de compartilhar

Mesmo assim eu agradeço
Porque pelo que aconteceu ainda cresço
Lembrando do tempo que desfrutei da sua companhia
Acho eu que não trocaria por nenhum dia
o que abrir meu mundo para você representou

Agradeço principalmente porque foi quem me mostrou monstros
que de começo não eram meus mas que precisavam ser combatidos
e se refletiram na confusão dos meus sentimentos
sei que agora não vão ficar mais perdidos
pois quero cada vez mais me reinventar sem esquecer as marcas de um passado
mas que esses monstros apareçam um a um
para que venha a coragem de enfrentar sem fugir de modo algum

E assim nós seguimos e tomamos nossos rumos
E se a nossa vida é feita de memória
ela é como um grande tecido entrelaçado por fios
feitos do mais sensível material
Nem aqui ou acolá você vai me escapar
Pois já ajudou a mudar e a construir os fios da minha nova história.


segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Nas correntezas do Marajó

Nas correntezas que rumam a bela ilha lá no norte do Brasil
é por onde vive seu Edinelson de Castro
Marajoara de raiz
Um verdadeiro astro

Um poeta que profeta
um mundo que pode ser diferente
Com o pique e energia de um atleta
Nunca vai deixar de ser crente

Além de educar jovens, se dedica ao trabalho no Batalhão da Polícia Militar
E no outro tempo que tem viaja em seus pensamentos para além mar
com a leveza de suas mãos é capaz de erguer um barco sem usar nem cola
é capaz de esculpir da madeira uma ave sem demora
E mesmo na milicia simboliza para o seu povo um militante, guerreiro e protestante

Um caboclo assumido
Na bela cidade de Ponta de Pedras de onde vem
É personagem muito conhecido

Consegue misturar sua poesia com política
Sempre relembrando a história não contada
Sempre dando valor as pessoas que seguem nessa estrada

Mais de uma década de muita dedicação
para também seguir a sua nobre missão
de resgatar a historia dessa cidade
que no mistério permanece o que aconteceu no ano de 1999
quando atearam fogo na prefeitura
na revolta pela falta de estrutura
ou quissá pra queimar a prova de muita falcatrua

Pois esse homem sabe e sabe muito
que qualquer justiça só se faz
partindo daquilo que o passado tenta deixar pra trás

que a história do Marajó
é uma incrível mistura num povo só
que as pontas que ligam as pedras onde caminha
é feita de muito sonho, luta, amor e labuta
é feita por seu povo
e esse povo carrega na mente e n'alma
um brilho que se sente no olhar
e que só o escutar de suas palavras já alivia e acalma

mostrando que é ainda é possível
traçar histórias de vidas que se cruzam e se unem
mesmo nesse mundo tão imprevisível



sábado, 24 de setembro de 2011

No fundo do mundo

Profundo mundo esse de gente que vive
Nem sempre enxergado
Nem sem muito ir a fundo

Mesmo assim
A qualquer hora pode ser reivetado
A qualquer hora pode ser revivido
Certamente desesquecido

Porque nesse mundo o que há de profundo
É compartilhar de um novo olhar